O rio (por Luiza - Tycho)


O rio é aquele líquido que atravessa os lugares, invadindo-os, penetrando-os. Passa pela estrada, pelos carros, pelas pessoas, pela sua cabeça. E não sai mais de lá. Ele umedece os seus pensamentos com sua cor única e quente: o vermelho.
De onde vem esse rio, que tantos caminhos percorre? Que deixa sua marca no tormento daqueles que o bebem ou somente o veem passar? Sua cor já nos dá a clara resposta para esta pergunta: da morte.
O rio é alimentado todos os dias; fazem questão de nunca vê-lo secar. Os peixes que ali nadam são os da angústia, e as plantas das margens, da tristeza.
Há vários meios para mantê-lo circulando por todos nós. Do gatilho de uma arma ou da lâmina de uma faca, o líquido vermelho escapa.
Os últimos a serem sacrificados por estas correntes impiedosas foram o senhor e a senhora Vasquez. Apareceram em seu caminho, debaixo de um viaduto, homens cujas mentes já haviam transbordado pela corrente de água rubra. A única solução era conseguir mais. O desespero da necessidade doentia. Tudo pelo “santo” rio.
Com seis anos ou sessenta, todos devem saber que esse leito nunca secará. O pequeno Orlando Vasquez, agora órfão, se alimenta das tainhas desse rio. Talvez para lembrar que os peixes, diferente das pessoas queridas daquele fatídico dia, não morrem afogados.

3 Responses so far.

  1. Vanice says:
    Este comentário foi removido pelo autor.
  2. Vanice says:

    me levou para 'a terceira margem do rio' do Guimarães... simplesmente adorei.

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