Ondas são a poção mágica dos que precisam de mar e amar.
são os raros parceiros de trabalho salgado que compreendem

que o surf é “apenas” uma plataforma de lançamento para novas dimensões
é apenas o sonho primordial azul-esverdeado para que façamos também da vida

uma session maravilhosa, gastando a alma em vez dos braços e costas a remar e remar.

Ondas são o olhar de fé e as palavras do velho brother, “tem umas ondas lá atrás”,

mesmo quando não vemos nada; é o seu olhar de agradecimento por poder surfar

que parece chamar as ondas.

É saber que, além do vento, frentes frias e outros fatores naturais,

ondas são formadas pela espera e desejo de nossos corações
e alcançam um sentido maior quando são divididas

com os gritos, olhares e gestos de amigos e amores se reencontrando-resgatando no outside.

Ondas são os olhos de minha mãe, azuis cristalinos, da atitude de uma mulher que fez de cada escola em que lecionou e viagens pelo mundo uma experiência poderosa,

da maior lição que me legou: fazer, sempre, de um lugar e momento, o melhor da vida.
são as poesias e romantismo do velho pai, sempre a surfar a vida

com a inocência de uma criança que espera tudo dela, apesar do tudo nunca se completar.

Ondas são filhos que retornam aos pais
São as mães vendo os filhos chegarem lá.
Ondas são crianças, brincadeiras, pipas nadando horizontais com pausas em movimento de maravilhosa e plástica verticalidade
são aquarelas de cores e castelos de areia sendo construídos de acordo com a criatividade, fantasia ou paixão do artista que é todo surfista

são jovens se jogando na maior aventura de suas vidas
são adultos que não esquecem o passado: a primeira onda, prancha, brother, trip e amor
são os velhinhos simpáticos com jeito de pescadores cantando, inventando-recriando

as histórias de suas ondas da vida.

Ondas são abraços nas paredes em que nos agarramos feito meninos descalços

em seus cavalos selvagens ou de brinquedo
são os casais que nunca deixam de passearem de mãos dadas.

Ondas são tudo, para os que valorizam cada queda, em condições clássicas ou terríveis
ou nada, se o surfista pensar e senti-las apenas como uma profissão ou diversão,

ou se xingar o mar quando ele não ruge como espera.

Ondas habitam a alma de quem admira os grandes surfistas da história

como os meninos costumavam admirar, muito tempo atrás, os super-heróis.

Ondas são os tradutores do mar, os cronistas, poetas e músicos azuis: Pepê Cezar, Julio Adler, Gonçalo Cadilhe, Gibus du Soutrait, artistas da Surfers Journal, Jorge Amado, Sophia de Mello, Ben Harper, Gabriel O Pensador, os que escreveram-cantaram as melodias e letras

das ondas que são canções, textos e manifestos de vida.

Ondas são os que sabem nos olhar e nos falar com a melodia, beleza e profundidade

dos anos incríveis, dos anos dourados
são a profundidade e ombro dos que sabem nos escutar como o surfista escuta o barulho do mar
como a criança escuta com atenção histórias encantadas, à beira da cama, antes de dormir.
Ondas são meninos e meninas desenhando casas e lares felizes, florestas verdes,

heróis admiráveis e ondas perfeitas nos cadernos da escola
são homens e mulheres que reaprendem a ser gente, crianças, a cada nova queda

no maravilhoso túnel do tempo chamado surf.