Só me lembro dos disparos. Pensando bem, lembro-me também da poça de sangue no chão. Não faço ideia de como consigo me lembrar daquelas cenas. Eu tinha apenas três anos.
Mas isso não importa. O que importa é que, desde aquele dia, aquele mistério me intrigou. Durante toda a minha vida, procurei descobrir como morrera meu avô. Sempre que perguntava algo sobre o caso, minha mãe fugia do assunto. Tentei e tentei, mas ela nunca me disse nada.
Certa vez, limpando o sótão, encontrei uma caixa de sapatos. Dentro dela, havia dois cartões postais assinados com o nome de meu avô e datados do início do século XX; dois cadernos velhos e muitos outros materiais que provavelmente pertenciam a ele também. Deixei a caixa separada, em um canto do sótão e terminei a limpeza.

Todo dia, ao voltar da escola, eu pegava os cadernos e outros pertences de meu avô e os estudava. Com o tempo, descobri que os cadernos eram quase como diários, em que vovô fazia suas anotações.
Observando as anotações, descobri que ele havia sido militar de alta patente no exército alemão. Ele havia aderido ao partido nazista e apoiado Hitler em sua ascensão ao poder.
Mais ao final do diário, vovô comentava alguns arrependimentos. Algumas de suas anotações:

“?/1939: Invadimos a Polônia. Espero que a guerra traga bons frutos para a nação alemã.”
“?/1943: Hoje visitei o campo de Auschwitz. Começo a me arrepender de ter ajudado Hitler.”
“5/08/1944: Entreguei as táticas alemãs para os Aliados. Um espião alemão avisou Hitler de minha ação. Soldados nazistas estão vindo pra cá. Não há escapatória.”
“6/08/1944: Os soldados estão na porta de minha casa. Anoto minhas últimas palavras nesse diário e entrego-o a minha filha, que está escondida no sótão junta com meus pertences e com meu neto. Agora, aguardo a morte.”

No sótão, eu e mamãe observamos os soldados nazistas invadindo a casa e disparando contra meu avô. Agora eu entendo o que aconteceu. Meu avô foi um herói.